“Instrumento que se move por si mesmo, meio que inventa seus próprios fins, o olho é aquilo que foi comovido por um certo impacto do mundo, e que o restitui ao visível pelos traços da mão.”
– Merleau-Ponty

O livro FEBRE é inteiro um exercício de registrar a percepção no momento de seu encantamento. Cada página é uma tentativa de registro do tempo, da memória e do corpo, como interlocutor direto de nossa relação com o mundo.

Seu nome FEBRE, faz referência a única companhia que tem o artista no instante antes da expressão, uma febre vaga. É nessa tentativa, nesse ‘antes’, que o livro celebra o traço como risco.

“Estar no mundo não é ser uma coisa entre as coisas, é se sentir em casa entre as coisas.”
– Mikel Dufrenne

O livro FEBRE faz parte dos meus estudos sobre desenho e deu origem à ação Faço o seu retrato (cego), se você fizer o meu.

A encadernação feita apenas com um elástico e em lâminas soltas cria ‘figuras desfiguradas’ – quando mistura os traços de dois desenhos aleatórios – e constrói um segredo que pode ser facilmente revelado com um segundo manuseio, que é desmontar o livro e descobrir os desenhos por inteiro. Seguindo mais um passo podemos reconstruí-lo e descobrir novas composições, multiplicando a experiência do folhar e transformando o expectador em agente direto da obra.

Seguindo um compromisso com o ‘agora’, o livro não poderia ter outra forma de reprodução que não fosse o próprio ato de desenhar. Por isso, cada exemplar é feito durante sessões de modelo vivo e traz os desenhos originais, transformando cada livro em uma peça única.

O papel utilizado é o pólen bold 90g/m2 com algumas folhas em papel vegetal 63g/m2, os desenhos são feitos em em lápis grafite 4B e 6B. Capa em papel pólen bold 90g/m2, com aplicação de carimbo. Tipologia Typenoksidi e Garamond.